O sujeito na psicose: especificidades e intervenções

Resumo: A investigação parte do pressuposto de que os mecanismos de inserção social dos sujeitos psicóticos só serão eficazes se partirem de um trabalho que leve em conta a singularidade desses sujeitos. A Lei 10.216, de 06 de abril de 2001, que estabeleceu a extinção dos hospitais psiquiátricos e a criação de dispositivos comunitários para tratamento das psicoses, vem exigindo por parte dos profissionais das diversas áreas que se dedicam a esses sujeitos um intenso trabalho de reconstrução de suas práticas. O principal escolho da implantação da lei é, a nosso ver, garantir uma relação de equilíbrio entre, por um lado, o respeito à singularidade dos sujeitos e, por outro, a implantação de políticas que são, por natureza, coletivas. No âmbito da psicanálise, um dos saberes mais presentes nesse campo, as intervenções junto aos psicóticos desde sempre foram antecedidas por questões a respeito de suas condições de possibilidade. Freud (1914), criador da psicanálise, não considerava que a mesma pudesse ter influência sobre os psicóticos. Acreditava que, em função da impossibilidade que teriam tais sujeitos de estabelecer laços, não concederiam ao analista a posição necessária em suas vidas emocionais para que os efeitos da análise pudessem se dar. Ao propor o que chamou de “atendimento de ensaio”, que seriam consultas preliminares antes do início do tratamento em si, Freud defendeu tal procedimento referindo-se principalmente ao seu papel no diagnóstico diferencial, pois tomar um psicótico em análise seria um erro ético. Entretanto, Freud não deixou de investigar teoricamente o tema e sempre ressaltou que os processos psíquicos que ocorrem em pessoas consideradas normais se diferenciam daqueles encontrados nos psicóticos tão somente por uma questão de graus. Sua mais célebre abordagem acerca das psicoses foi através de um livro escrito por um paranoico, no qual este relata suas construções delirantes (Freud, 1912). Freud toma esse texto sem grandes diferenças em relação a outros momentos em que relata os casos clínicos de fato tratados por ele.
Lacan, cujo ensino se propõe a ser uma releitura daquele de Freud, parte de sua formação psiquiátrica para abordar as psicoses, o que faz ao longo de toda a sua obra, mas dedica-se ao tema principalmente em O Seminário: Livro 3 “As Psicoses” e no escrito “De uma questão preliminar a todo tratamento possível das psicoses”. No título desse artigo constata-se que qualquer tratamento das psicoses requer um questionamento anterior de suas possibilidades.
Assim, torna-se fundamental estudar manifestações presentes especificamente nas psicoses para que se verifiquem as possibilidades de intervenção. Na presente pesquisa, o aspecto central a ser abordado é o processo de identificação no sujeito psicótico. Toda relação com o outro depende de que o sujeito possa identificar-se, mas nas psicoses o processo de identificação sofre percalços, pois essa estrutura se constitui sem o atravessamento do conflito edípico, no qual o sujeito se identifica como homem ou como mulher. A questão é de que maneira um sujeito que não pode se situar ante a questão fundamental da diferença sexual se posiciona para estabelecer laços com o entorno. Freud deixa claro que a diferença anatômica entre os sexos produz consequências psíquicas e que a anatomia por si só não determina o registro subjetivo no que tange à diferença sexual.
Para Lacan (1985), feminilidade e masculinidade podem ser entendidas como lógicas discursivas distintas e não complementares. Propõe, assim, suas “fórmulas quânticas da sexuação”, que permitem evidenciar a impossibilidade de acoplamento entre os sexos, pois os discursos se fundam em torno do vazio.
O fundamento teórico da pesquisa será a psicanálise como proposta por Freud e Lacan, por se tratar de um dos saberes mais presentes nesse campo atualmente e que desde suas origens aborda a questão das psicoses. Os pesquisadores terão por base ainda a experiência vivenciada no Ambulatório de Saúde Mental para crianças e adolescentes do HUCAM, vinculando Ensino, Pesquisa e Extensão. Espera-se contribuir para as reflexões sobre essa prática que, ainda em construção, encontra a cada dia novos desafios.

Data de início: 04/08/2014
Prazo (meses): 12

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