O trabalho docente tem cor: construindo uma Clínica do Trabalho antirracista
Nome: MARCONI DA CONCEIÇÃO DANIEL
Data de publicação: 23/08/2023
Banca:
Nome | Papel |
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MARIA ELIZABETH BARROS DE BARROS | Presidente |
JACYARA SILVA DE PAIVA | Examinador Interno |
CLAUDIA OSORIO DA SILVA | Examinador Externo |
Resumo: Esta dissertação de mestrado se configura como um modo de problematizar as condições de
constituição dos processos de trabalho na realidade brasileira, aborda os estudos de processos
de trabalho no âmbito da Psicologia. O foco são as perspectivas em Clínicas do Trabalho, mais
especificamente, a Clínica da Atividade, algumas de suas formulações conceituais e
metodológicas. O texto lança mão de conceitos formulados nesse campo para, então, fazer um
debate sobre as questões do racismo estrutural e seus efeitos nos processos de trabalho, como
chave de entendimento e análise dos modos de subjetivação e de constituição da vida em meio
laboral. O campo empírico foi uma escola da rede municipal da Grande Vitória. As participantes
foram docentes negras que trabalham na referida escola.
Ao analisar os processos de trabalho na realidade brasileira, é preciso levar em conta a sua
constituição histórica e política que se faz por efeitos dos processos de escravização e
racialização de corpos negros. Partindo dessa perspectiva, trata-se de uma construção de uma
clínica do trabalho antirracista por meio do trabalho concreto de mulheres negras na docência.
Para esse propósito, realizamos a interação entre alguns operadores conceituais da Clínica da
Atividade e os estudos sobre os processos de racialização de corpos negros como efeitos do
processo de escravidão negra.
A pesquisa se efetivou com trabalhadoras docentes negras atuantes na educação básica pública
em escolas da Região Metropolitana da Grande Vitória. Foram realizados encontros presenciais
de modo coletivo em rodas de conversa e, posteriormente, entrevistas individuais por meio da
instrução ao sósia, uma metodologia de pesquisa própria da Clínica da Atividade. Nos encontros
tanto de modo coletivo, quanto individual, as trabalhadoras narraram o modo como a questão
racial se articulava com suas trajetórias profissionais e nas experiências de vida. O impulso dos
encontros se encontrava no ofício docente dessas professoras sendo expresso cotidianamente
por meio da atividade, tendo como elemento de importância de análise a sua inserção aos
processos de trabalho como mulheres negras, desse modo, dando visibilidade às estratégias de
enfrentamento e de criação por meio das estilizações diaspóricas.
Por fim, compreendemos que o ofício docente de mulheres negras aparece como um modo
incorporado de fazer frente à constante construção do gênero profissional trabalhadora docente
composto por valores da branquitude. As estilizações diaspóricas sendo exercidas por meio da
atividade docente das mulheres negras, se encontram capilarizadas nos arranjos do ofício em
suas dimensões: pessoal, interpessoal, transpessoal e impessoal. O trabalho concreto dessas
profissionais é o que auxilia no fortalecimento da luta antirracista, no enriquecimento do gênero
profissional e no desenvolvimento do seu poder de agir.