Ética, saberes tradicionais e políticas da narratividade: diálogos entre povos originários e budismo

Resumo: Este trabalho surge da inquietação frente à aparente distância entre o que se afirma conhecer da experiência cotidiana e as maneiras como efetivamente a vivemos.
Interessa-nos o lugar da memória, essa dimensão constitutiva do real. Estamos desde 2015, realizando pesquisas com povos originários e em todo esse tempo relativamente curto, relativamente longo, tomamos as narrativas comunitárias como acesso a essa dimensão constituinte, coletiva, de interdependência. Qualquer coisa que possamos afirmar existir, somente existe em relação. Mas nossa experiencia convencional, por demasia moderna e civilizada, interpela-nos a habitar um mundo de formas, um mundo sem história.
O principal problema sobre o qual nos debruçamos é o cultivo de uma prática no mundo direcionada por princípios que não limitam a experiência cotidiana à existência de um sujeito independente e imutável. E talvez aqui, esteja contemplada uma definição estratégica de ética – uma ação no mundo que se interessa em avaliar seus efeitos no mundo. Assim, diante do imediatismo de respostas demandadas pelas situações cotidianas, só se conseguirá agir de forma ética se princípios éticos estiverem incorporados aos modos como estabelecemos relação, ao modo como nos constituímos existência numa rede de interdependência. De modo contrário, se responderá à variabilidade da vida por meio dos condicionamentos e limitações dos padrões habituais de ação. Tal incorporação, em nossa perspectiva, inicia-se com o reconhecimento dos benefícios para nossas vidas de uma prática ética e culmina em uma ação no mundo ampliada pelo desenvolvimento da habilidade em estabelecer conexões cada vez mais amplas e pela não limitação da experiência a uma identidade independente e condicionada.
Temos apostado na composição tanto com epistemologias ou matrizes de pensamento de diversas “linhagens” que apontam, para essa dimensão ética dos modos de existência, quanto pelos saberes “menorizados” pela hegemonia. Nesse sentido, afirmamos a importância dos saberes encarnados no estabelecimento de um diálogo com essas matrizes de pensamento, onde as possibilidades de uma ação ética ultrapassassem noções abstratas e se concretizassem no âmago das experiências cotidianas.
Esse projeto de pesquisa também tem por objetivo ajudar na “reconversão” ou guinada de volta aos estudos acerca da ética no budismo tibetano. E mais precisamente, no estabelecimento de um espaço de diálogo entre epistemologias ameríndias e fundamentos da filosofia budista tibetana. Esse interesse se dá exatamente por uma aproximação “metodológica”. Assim como para os povos originários, para o budismo de forma geral, há essa preocupação e um caminho formativo para uma experiencia de mundo hábil em avaliar a qualidade de certo modo de ser comunidade, de ser em relação, porque se sabe como efeito. Agentes e mundos são efeitos.
Há nessas duas epistemologias, questões relacionadas à ética, na medida em que essa temática comparece de modo encarnado, permeando intensamente vários aspectos da vida comunitária, das dimensões mais às menos sutis. Isso para reafirmar também sua importância nas produções acadêmicas, nos diálogos dentro da sociedade civil, nas políticas de Estado e públicas ou mesmo no âmbito dos processos formativos ou da espiritualidade.

Data de início: 01/03/2022
Prazo (meses): 36

Participantes:

Papel Nomeordem decrescente
Aluno Mestrado ANA BEATRIZ MORETO DO VALE
Aluno Mestrado EUZILENE DA SILVA RODRIGUES
Coordenador FABIO HEBERT DA SILVA
Aluno Mestrado HUDSON LIMA MOREIRA
Aluno Doutorado PRISCILA VESCOVI
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